Ele trata o eleitor como idiota. Um comercial recente de sua campanha
acusava Obama de ter deixado milhões de empregos de americanos irem
para a China.
Obama não deu um basta à China. Nós daremos, disse Romney.
Mas veja. Transferir empregos para a China por causa da mão de obra
barata foi uma das estratégias mais frequentes de Romney nos negócios
controlados por ele. Romney aumentou a fortuna herdada do pai ao se
especializar em comprar empresas quebradas e, com um corte de custos
impiedoso e imediatista, valorizá-las no curto prazo – o tempo
suficiente para ele ganhar um bom dinheiro.
Romney fez e faz o que Gordon Gekko do filme Wall Street, uma das
grandes obras de Oliver Stone, fazia. E agora vem falar que Obama
deveria ter impedido algo que ele próprio fazia?
Pior ainda é o conteúdo do vídeo que foi gravado sem que Romney
percebesse, e publicado pelo site de jornalismo investigativo Mother
Jones. O vídeo registra uma conversa de Romney com milionários para levantar dinheiro para sua campanha.
Ali aparece o Romney real, não o de mentirinha que fixou um sorriso
no rosto botocado. Romney se refere com desprezo aos “47%” de americanos
que votarão “de qualquer jeito” em Obama.
São os perdedores, segundo Romney. Melhor: são aqueles que querem
“tudo” do governo: acesso a bons hospitais públicos ou a boas escolas
públicas para seus filhos, por exemplo.
São aqueles que “não pagam imposto de renda”, disse Romney.
Ora. Boa parte deles não paga imposto de renda por estar
desempregada. Outros tantos são isentos por ganharem pouco, mas em seu
holerite vem o desconto.
O cinismo não pára aí. Romney publicou apenas uma declaração de
imposto de renda, a despeito das pressões para que fosse transparente
nisso. Sua taxa foi de 13%. Romney se especializou em evasões
legalizadas, como o refúgio em paraísos fiscais. E como tantos ricos
americanos foi favorecido por leis fiscais aprovadas por governos
republicanos.
O colunista Ezra Klein, do Washington Post, lembrou, a propósito
disso, uma conversa que teve um alto funcionário do governo George W
Bush. O tema era a reforma fiscal de Bush, em que entraram alguns
supostos benefícios para os desfavorecidos.
O homem de Bush, narra Klein, lhe perguntou se ele achava que o
governo queria mesmo oferecer vantagens para pobres. “Não”, ele próprio
responde. “Mas precisávamos daquilo para passar o resto”. O resto – na
verdade o essencial – eram as vantagens oferecidas na reforma a ricos
como Romney.
Se alguém não paga imposto nos Estados Unidos, são pessoas como
Romney, não os já célebres “47%” que segundo ele querem “tudo” do
governo e “nada” dão.
Há uma falácia fundamental na visão de governo de Romney e similares.
Eles rechaçam o que chamam de “Nanny State”, Estado Babá, que
alegadamente trata a sociedade como bebê. Mas, no poder, eles promovem
um “Nanny State” para si próprios.
Não são capitalistas. São predadores. Veja o que escreveu o inventor do
capitalismo, o escocês Adam Smith: “O impulso em admirar, e quase
venerar, os ricos e os poderosos, e desprezar ou, ao menos, negligenciar
pessoas pobres é a maior e mais universal causa da corrupção dos nossos
sentimentos morais”.
Adam Smith parece que escreveu isso ontem, para se referir a Mitt Romney.
Postado por Paulo Nogueira /DCM
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