(JB) - Agricultores brasileiros estão em litígio contra a Monsanto,
que lhes cobrou royalties pelo uso de uma tecnologia cuja patente expirou em
2010, de acordo com a legislação brasileira. As leis nacionais estabelecem que
o início da vigência de uma patente é a data de
seu primeiro registro. A Monsanto invoca a legislação norte-americana,
pela qual a patente passa a vigorar a partir de seu último registro. Como
sempre há maquiagem dos processos tecnológicos, a patente não expira jamais.
Os lobistas da Monsanto não tiveram dificuldades em negociar
acordo vantajoso, para a empresa, com os senhores do grande agronegócio,
reunidos em várias federações estaduais de agropecuária, e com a poderosa
Confederação Nacional da Agricultura, comandada pela senadora Kátia Abreu. Pelo
cambalacho, a Monsanto suspenderia a cobrança dos royalties até 2014, e os
demandantes desistiriam dos processos judiciais.
"Uma das maldições do homem é a tentativa de criar uma
natureza protética"
Uma das maldições do homem é a tentativa de criar uma
natureza protética, substituindo o mundo natural por outro que, sendo por ele
criado, poderá, na insolência da razão técnica, ser mais perfeito. Essa busca, iniciada ainda na antiguidade,
continuou com os alquimistas, e se intensificou com as descobertas da química,
a partir do século 18. O conluio entre a ciência, mediante a tecnologia e o
sistema capitalista que engendrou a Revolução Industrial, amparada pelo
laissez-faire, exacerbou esse movimento, que hoje ameaça a vida no planeta.
A Alemanha se tornaria, no século 19, o centro mais
importante das pesquisas e da produção industrial de novos elementos a fim de
substituir a matéria natural, construída nos milênios de vida no planeta, por
outra, criada com vantagens para o sistema de produção industrial moderno.
Não há exemplo mais evidente desse movimento suicida do que a
Monsanto. A empresa foi fundada em 1901 a fim de produzir sacarina, o primeiro
adoçante sintético então só fabricado na Alemanha. Da sacarina, a empresa foi
ampliando seus negócios com outros produtos sintéticos, como a vanilina e
corantes, muitos deles cancerígenos. Não deixa de ser emblemático que o
primeiro grande cliente da Monsanto tenha sido exatamente a Coca-Cola. É uma
coincidência que faz refletir.
Não é só a Monsanto que anda envenenando as terras e as águas
com seus produtos químicos. Outras empresas gigantes da química com ela
competem na produção de agrotóxicos mortais. Com o controle da engenharia
genética aplicada aos vegetais de consumo humano e de consumo animal, no
entanto, ela tem sido a principal responsável pelos danos irreparáveis à
natureza e à saúde dos animais e dos seres humanos.
Vários países do mundo têm proibido a utilização das sementes
transgênicas da Monsanto, entre eles a França, que interditou o uso das
sementes alteradas. No Brasil, ela tem vencido tudo, com a conivência das
autoridades responsáveis, ou irresponsáveis. A Comissão Técnica de
Biossegurança e o Conselho Nacional de Biossegurança vêm dando sinal verde aos crimes cometidos
pela Monsanto e outras congêneres no Brasil.
Essa devia ser uma preocupação prioritária do Parlamento, que
só se movimenta com entusiasmo quando se trata das articulações internas para a
eleição bianual de suas mesas diretoras.
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