Ao longo da minha vida, sempre procurei fazer tudo o que depende de mim
e não ficar esperando que os outros façam isso ou aquilo. Se alguma
coisa dá errado, eu olho no espelho, não pela janela.
Não
procuro buscar desculpas ou culpados pelos erros. Pergunto sempre: será
que eu fiz certo aquilo que depende de mim? Essa é a maneira que eu
encaro a vida.
Hoje, no nosso país, vejo uma grande quantidade
de pessoas se queixando do governo e dos governantes. Não nego que
existam motivos para descontentamentos. Muita coisa poderia ser feita de
forma diferente, e os brasileiros se sentiriam mais satisfeitos.
Mas, embora existam muitas razões para nos queixarmos dos governantes,
estou sempre indagando: será que estamos fazendo aquilo que depende de
nós?
Não quero minimizar os problemas brasileiros, eles precisam
ser enfrentados. Mas, se continuarmos apontando os erros dos
governantes enquanto fizermos a nossa parte, o Brasil poderá ter mais
crescimento e mais desenvolvimento.
O caminho para esse
desenvolvimento é o aumento da produtividade, com mais gestão, mais
investimentos e mais capacitação dos trabalhadores.
O Brasil desfrutou do bônus da estabilização econômica e política e de uma conjuntura global favorável presidente do conselho de administração da BRF. sobre a economia nos últimos anos
Foi o que sempre procurei fazer ao longo da minha vida, primeiro no
Grupo Pão de Açúcar e agora na BRF. São duas empresas muito diferentes,
atuando em setores distintos. Mas, como ensino aos meus alunos do curso
de liderança da Fundação Getulio Vargas, todas as empresas são, na
essência, gente e processo, processo e gente. Ter os processos mais
adequados de gestão e produção aplicados pelas pessoas mais capacitadas.
Seguindo essa fórmula, simples, mas não necessariamente fácil, a
produtividade aumenta, a empresa prospera, os investimentos dão retorno.
É disso que as empresas precisam, é disso que a economia brasileira
precisa.
Nos últimos anos, o Brasil desfrutou do bônus da
estabilização econômica e política e de uma conjuntura global favorável,
combinação que nos permitiu dar um salto de desenvolvimento com
inclusão social. Dezenas de milhões de pessoas entraram no mercado
consumidor, milhões de empregos foram criados. A taxa de desemprego, que
iniciou o século acima dos 10%, caiu para menos de 6% hoje em dia.
O alto desemprego no início da estabilização e a capacidade de produção
ociosa forneceram mão de obra e meios relativamente baratos para as
empresas expandirem a produção. Mais emprego trouxe mais renda, que
aumentou a demanda por produtos, expandiu o mercado e estimulou novos
investimentos.
Este círculo virtuoso, porém, atinge seus
limites, e a produtividade é o caminho para sustentar o desenvolvimento,
como mostra estudo recente do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Não é possível mais crescer via aumento do emprego e do consumo interno, o caminho é o aumento da produtividade presidente do conselho de administração da BRF, sobre o esgotamento do modelo econômico
De autoria dos economistas Regis Bonelli e Julia Fontes, a pesquisa
mostra como a economia e a produção brasileira cresceram absorvendo
aquele enorme contingente de desempregados - principalmente no setor de
serviços, intensivo em mão de obra -, sem precisar aumentar a
produtividade média do trabalhador de forma significativa, como ocorreu
em outros países.
Mas, com o Brasil rodando praticamente a pleno
emprego e a transformação demográfica que reduziu o número de filhos
por família, não é possível mais crescer via aumento do emprego e do
consumo interno. O Ibre aponta que, mesmo mantido o atual (e
insatisfatório) ritmo de crescimento da economia, faltaria trabalhador
no mercado, como já ocorre em algumas áreas.
O caminho para o
crescimento agora passa necessariamente pelo aumento da produção média
de cada trabalhador, não mais pelo aumento do número de trabalhadores.
Não é um caminho fácil, mas é um caminho claro. Não depende só das
empresas e dos trabalhadores. Entre os maiores entraves à produtividade
brasileira estão a precariedade da infraestrutura e a baixa qualidade da
educação em todos os níveis.
Há, portanto, um papel fundamental
dos governos nesse esforço indispensável pela produtividade. Podemos
criticá-los e devemos cobrá-los nesse sentido. Mas podemos fazer muita
coisa dentro de nossas empresas, com os processos certos e as pessoas
certas.
"Aprendi na minha vida que fazer traz muito mais resultado do que esperar e criticar. A corrida da produtividade já começou, e quem sair na frente terá mais chance de chegar lá".
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