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A lenda de cidades perdidas na Amazônia atraiu legiões de exploradores e aventureiros à morte na maior floresta tropical do mundo: haveria um antigo império de cidadelas e tesouros ocultos nas profundezas da selva amazônica? Conquistadores espanhóis se aventuraram na floresta buscando fortuna e foram seguidos ao longo dos séculos por outros, convencidos de que descobririam uma civilização perdida tão importante quanto a Asteca e a Inca. Alguns chamaram este local imaginário de El Dorado, outros, de Cidade de Z.
Mas a selva os engoliu e nada foi encontrado. Passou-se a imaginar que era um mito. A Amazônia era inóspita demais, diziam estudiosos do século XX, para permitir grandes assentamentos humanos. Mas quem sonhava estava certo. Novas imagens de satélite e outras feitas de avião, revelaram mais de 200 enormes construções geométricas escavadas na Bacia Amazônica Superior, perto da fronteira do Brasil com a Bolívia.
Espalhados por 248 quilômetros, há círculos, quadrados e outras formas geométricas que formam uma rede de avenidas, valetas e recintos construídos, muito antes da chegada de Cristóvão Colombo à América. Algumas dessas construções datam de 200 a. C., outras são bem mais tardias, do final do século XIII da nossa era. Os cientistas que as mapearam acreditam que pode haver outras 2.000 construções escondidas embaixo das árvores.
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As estruturas descobertas pelo desmatamento mostram uma “sofisticada sociedade pré-colombiana construtora de monumentos“, de acordo com a revista Antiquity, onde os autores lembram que “esse povo até agora desconhecido construiu fortificações com um plano geométrico preciso, conectadas por estradas ortogonais retas.” Chamadas de geóglifos, as figuras estendem-se por uma região de mais de 250 quilômetros e compõem uma rede de trincheiras com 11 metros de largura e barrancos de 1 metro. Acredita-se que eram usadas como fortificações, moradias e para cerimônias. Poderiam ter abrigado um média de 60 mil pessoas.
Essas descobertas demoliram idéias de que os solos da Amazônia eram muito pobres para sustentar uma agricultura extensiva, diz Denise Schaan, co-autora do estudo e antropóloga da Universidade Federal do Pará. Ela disse à revista americana National Geographic que “há muito mais para se descobrir nesses locais. Toda semana achamos novas estruturas.” Muitos dos montes encontrados são de grande simetria e se encontram inclinados para o norte. Uma das suposições é de que tenham um possível significado astronômico.
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Geóglifo na Fazenda Atlântica, na BR 364
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As primeiras formas geométricas foram achadas em 1999. Outras descobertas, que foram feitas na região do Xingu, mostram aldeias interligadas conhecidas como “cidades jardins“, com casas e fossos. “As revelações estão explodindo nossas percepções sobre como as Américas realmente eram antes da chegada de Colombo“, diz David Grann, autor de The Lost City of Z. [ A cidade perdida de Z.] E também vingam Percy Fawcett, o britânico que liderou uma expedição para encontrar a Cidade de Z e desapareceu, no percurso. Todas essas novas descobertas deixam vislumbrar o que poderia ter sido uma civilização antiga ainda desconhecida. Há quase 260 avenidas, caminhos e barreiras descobertas ao longo da fronteira entre o Brasil e a Bolívia.
Isso vai em completa oposição à tradicional visão da bacia Amazônica antes da chegada dos europeus por aqui: não havia cidades como as encontradas pelos espanhóis no território Inca. Agora a grande dúvida, que divide os especialistas, é saber se os geóglifos e as cidades jardim estão interligados. Os geóglifos são formados por canais – fossos — cavados de 11 metros de largura e 1 ou 2 metros de profundidade. E os círculos que eles formam vão de 90 a 300 metros de circunferência. A idade precisa das suas construções ainda é muito vaga. Acredita-se que eles tenham sido construídos num período de 700 anos, de 2000 anos atrás até mais ou menos o século XIII.
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Vista aérea de um geóglifo ao lado de uma estrada.
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Algumas escavações já trouxeram resultados inesperados, entre eles, cerâmicas e outros sinais de habitações humanas. Mas estes artefatos só aparecem em alguns locais e não em outros. Isso talvez deva ser visto como um indício de que esses locais teriam tido um papel cerimonial. Pensa-se também em defesa, no entanto estruturas de defesa não necessitam ser construídas com a precisão geométrica apresentada aqui. Para defesa, escavações em barreiras, trincheiras ou fossos, não precisam do detalhe de planejamento matemático que estes círculos de demonstram. E, já que muitas dessas estruturas estão orientadas para o norte é mais provável ainda que tenham algum significado astronômico.
O certo é que a maioria das grandes civilizações da antiguidade estava enraizada ao longo de um rio importante. E por causa da densidade da floresta amazônica, este simples fator, comum a quase todas as outras civilizações, foi ignorado. E no entanto, por que não teriam sido as margens do Amazonas fonte de desenvolvimento para os povos da América do Sul?
Não há evidência alguma de construções piramidais ou de uma língua escrita desenvolvida por essa sociedade que construiu os geóglifos amazônicos. Mas a intervenção na paisagem, no meio ambiente, através de construção de fossos e de construções circulares ou quadradas, mostram que este povo era sedentário, que fazia planos, que projetava suas idéias para um futuro longínquo – uma construção dessas não se faz de um dia para o outro — e que era uma sociedade estabelecida na terra, e não formada por tribos nômades.
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Apesar da proximidade de algumas aldeias Incas a 200 km a oeste dos geóglifos não foram achados ainda nenhum objeto Inca ou de influência Inca no local. E ainda, esses geóglifos não parecem ter qualquer afinidade com os geóglifos encontrados no Peru, de origem Nazca.
Para a maioria dos especialistas em estudos andinos e civilizações pré-colombianas, estas descobertas são simplesmente o que há na superfície. Com o tempo muitas outras descobertas virão, pois os indícios são de que havia um grande número de pessoas no local vivendo de maneira bastante organizada. Mas isso só o tempo comprovará.
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Fontes perigrinacultural: Estadão, A blog about history, The Guardian.
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