A crise da água em São Paulo não está sendo coberta pela imprensa.
Está sendo criminosamente encoberta, isso sim.
Pergunto se o distinto amigo e a querida amiga viu uma reportagem sequer, acompanhada das fotos correspondentes, sobre as “obras” que vão permitir o bombeamento da água do fundo das represas do Cantareira, viu?
Para não dizer que não houve nenhuma, houve uma, mostrando dois tratores limpando uma área junto à represa do Atibaia.
Nada mais.
Hoje, o Cantareira deve amanhecer com apenas 9,8% de sua capacidade, já que os 10% de ontem são apenas obra do “arredondamento” feito pela Sabesp. O relatório da Agência Nacional de Águas já apontava 9,9%.
O maior reservatório, Jaguari-Jacareí, está reduzido a 2,5% de seu volume.
2,5%, isso mesmo.
Vou dar os números, que são públicos e acessíveis pela internet.
Em 31 de janeiro, o Cantareira tinha 217 bilhões de litros de água.
Ao fim de fevereiro, 160 bilhões.
Terminou março com 127 bilhões de litros.
Hoje, tem 96 bilhões de litros, mesmo com toda a economia compulsória que
descontos e multas impõem aos consumidores mais pobres.
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Isto – ao lado da melhoria das chuvas em março e abril – permitiu baixar de 40 para 30 bilhões de litros a perda mensal do sistema.
Este mês a situação será pior e o esvaziamento vai superar os 40 bilhões de litros, como em fevereiro, mesmo com a vazão de saída reduzida.
Precisa de máquina de calcular?
Se tudo der certo, o bombeamento inédito leva a água até novembro. Claro, se o outro sistema que foi mobilizado para socorrer o Cantareira – o Alto Tietê – aguentar a sobrecarga.
E chega-se ao período de chuvas “devendo” nada menos que 180 bilhões de litros de água para que ela volte ao nível das comportas, sem exigir bombas.
Se as chuvas voltarem com força, o cenário em 2015 será igual ao de hoje.
Mas o distinto amiga e a lúcida leitora leem todos os dias previsões catastróficas sobre a…falta de luz iminente.
A capacidade aproveitada do armazenamento de água nas hidrelétricas é, entretanto, quatro vezes maior do que a do Cantareira.
Era, no domingo, de 42,5%, somando todo o Sistema Interligado Nacional. Angra I, parada desde fevereiro para manutenção programada, está sendo progressivamente (como é normal em geradoras) religada desde o final de semana. A pior situação, a do Sudeste, está em 38,8%.
Não é uma questão de torcer por uma “seca federal” ou uma “seca estadual”, porque as pessoas e a economia precisam de luz e água.
Nem de que haja uma seca em São Paulo e abundância de águas no resto do Sudeste.
O Brasil foi advertido em 2001 da fragilidade de seu sistema e São Paulo o foi na seca de 2004.
Não se discute a sua justeza, mas o fato é que só temos uma situação elétrica insegura porque Belo Monte foi atrasada pelas questões ambientais, do contrário estaria gerando hoje quase um quarto de nossas necessidades elétricas, com o período chuvoso do Norte do país.
Em São Paulo, nem sequer discutimos questões ambientais, pelo simples fato de que não se fez nada ou quase nada em matéria de melhoria do sistema de abastecimento.
Onde o amigo ouviu isto ser debatido na imensa “cobertura” que tem a crise na geração de energia?
E é tão turva quanto as águas do “volume morto” de seus reservatórios
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