O governador do Paraná, Beto Richa, vive a fase que os astrólogos
costumam chamar de “inferno astral”. No primeiro turno das eleições em
Curitiba, o seu candidato, o prefeito Luciano Ducci (PSB), que buscava a
reeleição, amargou o terceiro lugar. Depois, assistiu à vitória de seu
desafeto, o ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT), alijado do PSDB por
ter seu nome vetado para assumir a comissão provisória da capital.
Richa votou no segundo turno e no mesmo dia deu início a um périplo
oficial pela China, Líbano e Itália que durou até 8 de novembro. Segundo
a bancada oposicionista na Assembleia Legislativa, o governador, um
aficionado por automobilismo e piloto amador nas horas vagas, faria uma
escala nos dias 3 e 4 em Abu Dhabi, coincidentemente o fim de semana que
aconteceu o Grande Prêmio de F-1.
Quando retornava ao Brasil e tudo já parecia acomodado, Richa foi
surpreendido pelo manifesto do senador tucano Alvaro Dias. Em seu blog,
Dias classificou o governo do Paraná de “promíscuo, nepotismo,
fisiologismo escancarado e loteamento sem escrúpulos”. Acusou Richa de
ter instalado no Palácio Iguaçu um balcão de negócios para cooptação dos
partidos políticos a pretexto de garantir a governabilidade. “Rima-se
governabilidade com promiscuidade” atacou o senador.
A convivência entre ambos nunca foi das melhores. Piorou em 2010
quando Dias ficou neutro na disputa pelo governo do Estado, uma vez que o
adversário de Richa era seu irmão, o então senador Osmar Dias (PDT).
Desde então, as escaramuças foram se acentuando. À medida que perdia
espaços no partido, Dias viu suas pretensões à reeleição vir por água
abaixo com a manifestação do presidente do PSDB paranaense e da
Assembleia Legislativa, deputado Valdir Rossoni, de que é candidato à
única vaga para o Senado em 2014. Rossoni é quem comanda a tropa de
choque de Beto Richa na Casa e certamente terá a anuência do chefe. Era o
estopim que faltava para explodir a bomba. Por mais que o grupo de
apoio a Richa negue, a crise tucana parece se alastrar como um rastilho
de pólvora por todo o estado. Além de Curitiba, o PSDB não lançou
candidaturas em nenhuma das principais cidades do Paraná. Elegeu
prefeitos em 78 municípios, todos pequenos ou médios. A única estratégia
será cooptar os eleitos por outros partidos.
A situação de Alvaro Dias também não é das mais confortáveis. Crítico
contumaz do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta
Dilma Rousseff, o senador terá dificuldade em encontrar espaço numa
sigla que dê sustentação à sua candidatura à reeleição. Sua metralhadora
giratória em Brasília não poupou o governo e acabou atingindo em cheio
todos os partidos que compõem a base de apoio do Planalto. A imprensa e
os blogs políticos anunciaram nesta semana que o PDT poderia abrigá-lo
sob seu guarda-chuva em face do relacionamento com o ex-tucano e agora
neopedetista Gustavo Fruet, recém-eleito prefeito da Curitiba, além do
presidente licenciado do partido no Paraná ser justamente seu irmão, o
ex-senador e atual vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil,
Osmar Dias.
Para o presidente em exercício do PDT paranaense, o médico e
ex-deputado Haroldo Ferreira, a migração de Alvaro Dias para a legenda é
“incompatível”. “Temos uma aliança formada pela base aliada do governo
federal desde 2010, na eleição da presidenta Dilma, quando Osmar Dias
foi candidato a governador e a ministra Gleisi Hoffmann ao Senado, que
se consolidou agora com a eleição de Gustavo Fruet”. As especulações são
que Alvaro Dias pode embarcar na canoa do PMDB de Requião ou, quem
sabe, aderir ao PSD do prefeito Gilberto Kassab.
por René Ruschel/Carta Capital
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