Belo Monte leva o maior financiamento da história do BNDES: R$ 22,5 bilhões
Valor evidencia necessidade de capitalização do banco estatal; por R$ 500 milhões, crédito não superou os limites da regulação bancária
O Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou ontem o maior
empréstimo de sua história para um único projeto. O financiamento, com
prazo de 30 anos, somará R$ 22,5 bilhões para o consórcio Norte Energia
S.A., que investirá R$ 28,9 bilhões na hidrelétrica de Belo Monte. O
consórcio venceu o leilão em março de 2010 e as obras começaram no
primeiro semestre de 2011.Com Belo Monte, os cinco
maiores projetos aprovados pelo BNDES, todos incluídos no Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC), somam R$ 57,1 bilhões, considerando
aprovações desde 2008.O valor anunciado ontem
supera em mais que o dobro o financiamento à Refinaria Abreu e Lima, da
Petrobrás, em Pernambuco, aprovado em 2009, no valor de R$ 9,9 bilhões.
Já a construção da usina nuclear Angra III teve financiamento de R$ 6,1
bilhões, aprovado em 2010.Belo Monte também
receberá mais do que a soma das duas usinas hidrelétricas do Rio
Madeira, em Rondônia: Santo Antônio teve empréstimo de R$ 6,1 bilhões,
aprovado em 2008, e Jirau teve R$ 9,5 bilhões, incluindo uma
suplementação de R$ 2,3 bilhões aprovada em setembro passado, como
adiantou o Estado.O total dos empréstimos
nos cinco projetos poderá subir. A chefe do Departamento de Energia do
BNDES, Marcia Leal, informou que há a possibilidade de Santo Antônio
também receber adicional, se o projeto for ampliado. "Se ele tiver a
capacidade de pagamento ampliada e necessitar de investimentos
adicionais, não tem por que não", disse.Os valores bilionários
evidenciam a necessidade de capitalização do BNDES. Seu patrimônio de
referência, capital do banco usado para efeitos de limites de prudência
bancária, encerrou o terceiro trimestre em R$ 92,228 bilhões. Um
empréstimo para um só cliente não pode passar de 25% disso, R$ 23,057
bilhões.O empréstimo à Norte
Energia S.A. está R$ 557 milhões abaixo do limite, mas, do total, R$ 9
bilhões serão repassados pelo banco BTG Pactual (R$ 2 bilhões) e pela
Caixa (R$ 7 bilhões), o que reduz a exposição direta do BNDES. Como os
repassadores assumem o risco, os R$ 9 bilhões ficam fora do limite.O uso de agentes
financeiros é normal em financiamentos para projetos, na modalidade
conhecida como project finance, destacou o diretor de Infraestrutura e
Insumos Básicos do BNDES, Roberto Zurli. BTG Pactual e Caixa foram
escolhidos pela Norte Energia S.A.Terceira maior. Ações
socioambientais previstas na licença concedida pelo Ibama receberão R$
3,2 bilhões do total. O Comitê Gestor do Plano de Desenvolvimento
Sustentável do Xingu receberá outro empréstimo, de R$ 500 milhões.Belo Monte terá
capacidade instalada de 11.233 megawatts, terceira maior do mundo. A
previsão é que comece a operar em fevereiro de 2015, com conclusão total
em janeiro de 2019. Apesar das interrupções nas obras por decisões da
Justiça e protestos, Zurli disse que o cronograma está mantido. O
consórcio Norte Energia é formado pela Eletrobrás, Chesf, Eletronorte,
Neoenergia, Cemig, Light e J. Malucelli Energia; pelos fundos de pensão
Petros (da Petrobrás) e Funcef (da Caixa); pela Vale e pela siderúrgica
Sinobrás.
Vinicius Neder, de O Estado de S. Paulo
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