Lula e seus Prêmios
por Marcos Coimbra
É comum haver discrepância entre a imagem de uma liderança em seu país e no resto do mundo.
Nos regimes autoritários, os governantes tendem a ser mais bem quistos
em casa, pois não permitem que seus compatriotas desgostem deles. Nas
democracias, acontece o inverso, e é normal que sejam mais bem avaliados
fora.
Isso costuma decorrer dos alinhamentos partidários internos, que, para
um estrangeiro, são pouco relevantes. Ou vem do sentimento traduzido
pelo aforismo “Ninguém é profeta em sua terra”.
É mais fácil condescender com quem conhecemos menos.
No Brasil, são raríssimos os políticos que adquiriram notoriedade fora
de nossas fronteiras. Só os brasilianistas conhecem a vasta maioria, que
chegou, no máximo, à América do Sul e aos países de expressão
portuguesa.
Lideranças brasileiras de fato conhecidas internacionalmente são duas:
Fernando Henrique e Lula. Dilma está a caminho de ser a terceira.
O tucano é um exemplo daqueles cuja imagem interna e externa é marcadamente distinta.
Fora do Brasil, FHC é visto com olhos muito mais favoráveis que pela
maior parte dos brasileiros. É evidente que tem admiradores no País, mas
em proporção substancialmente menor que o daqueles que não gostam dele.
Tem, no entanto, reconhecimento internacional, que se traduz em
homenagens, prêmios e convites para integrar colegiados de notáveis.
Sempre que é saudado no exterior, nossa mídia e os “formadores de
opinião” de plantão registram com destaque o acontecimento,
considerando-o natural e como a compreensível celebração de suas
virtudes.
Acham injusta a implicância da maioria dos brasileiros para com ele.
Lula é um caso à parte. A começar por ser admirado dentro e fora do país.
Como mostram as pesquisas, os números de sua popularidade são únicos em
nossa história. Foi um governante com aprovação recorde em todos os
segmentos relevantes da sociedade, em termos regionais e
socioeconômicos.
Acaba de colher uma vitória eleitoral importante, com a eleição de
Fernando Haddad, a quem indicou pessoalmente e por quem trabalhou. Feito
só inferior ao desafio que era eleger Dilma em 2010.
No resto do mundo, é figura amplamente respeitada, à esquerda e à
direita, por gregos e troianos. Já recebeu uma impressionante quantidade
de honrarias.
Esta semana, foi-lhe entregue o prêmio Indira Gandhi, o mais importante
da Índia, por sua contribuição à paz, ao desarmamento e ao
desenvolvimento. Na cerimônia, o presidente do país ressaltou que Lula o
merecia por defender os mesmos princípios que Indira e Mahatma Gandhi. O
que representa, para eles, associá-lo à mais ilustre companhia
possível.
Quem conhece a imagem que Lula tem quase consensualmente no Brasil e no estrangeiro deve ficar perplexo.
Será que todo mundo - literalmente – está errado e a direita brasileira
certa? Só sua imprensa, seus porta-vozes e representantes sabem “quem é o
verdadeiro Lula”? O resto do planeta foi ludibriado pelas artimanhas do
petista?
É até engraçado ouvir o que dizem alguns expoentes da direita
tupiniquim, quantos adjetivos grosseiros são capazes de encontrar para
qualificar uma pessoa que o presidente da Índia (que, supõe-se, nada tem
de “lulopetista”) coloca ao lado do Mahatma.
Só pode ser porque não conhece o que pensa aquele fulaninho, um dos tais que sabem “a verdade sobre Lula”.
Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-premios-de-lula-por-marcos-coimbra
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