O furo mais sensacional do New York Times nos últimos dias apareceu
não nas páginas de política ou de economia. Surgiu numa coluna que é um
consultório sentimental. Um leitor mandou uma carta anônima cujo título
era: “O Amante de Minha Mulher”.
Nele, o homem enganado pedia conselho. Descobrira que sua mulher
estava tendo um caso com um homem que estava fazendo um trabalho vital
para o futuro do país – “e não existe exagero aí”. Nas vezes em que se
viram, disse o anônimo, o homem com quem sua mulher saía sempre o tratou
muito bem, um sinal de que não sabia que ele sabia.
Que fazer? Repudiar a mulher? Esperar, como um estoicismo patriótico, o final da missão do grande homem?
Para encurtar: o autor da carta estava se referindo ao general David
Petraues, diretor da CIA e a figura mais admirada, em muitos anos, das
Forças Armadas americanas. Petraues, nos anos 1990, quando parecia que a
hegemonia dos Estados Unidos era para sempre, chegou a ser cotado para
concorrer a presidente.
Aos 60 anos, casado, dois filhos adultos, a carreira de Petraues
chegou ao fim espetacularmente. Ele renunciou tão logo sua infidelidade
se tornou pública, pouco depois da carta publicada no New York Times.
Petraues tinha um caso com a escritora que escreveu um livro sobre
ele, a jornalista e escritora Paula Broadwell, 40 anos, dois filhos
pequenos com o homem que recorreu ao consultório sentimental do jornal.
Manter um caso secreto já é duro. O problema é que Petraues tinha
dois, e foi aí que ele se enrolou. Ele se envolveu romanticamente também
com uma militar lotada no Departamento de Estado, Jill Kelley, de 37
anos, igualmente casada.
Jill avisou ao FBI que estava recebendo emails ameaçadores de Paula. O
FBI invadiu a caixa postal de Paula, e encontrou Petraues. A maior
preocupação era com a possibilidade de Paula ter tido acesso a
informações confidenciais.
Petraues foi absurdamente incensado pela mídia americana em duas
guerras nas quais os Estados Unidos acabaram fracassando
espetacularmente, a do Vietnã e a do Iraque. No Iraque, os jornalistas
americanos, pela primeira vez, trabalharam acoplados – embedded – às tropas. Foi um caso antológico de promiscuidade.
A queda de Petraues vem se prestando a piadas de toda natureza. “Se o
diretor da CIA não consegue manter um caso secreto, quem conseguirá?”,
zombou um comediante.
Foi também amplamente citado o título do livro escrito por Paula
Broadwell: “All in”. Era uma alusão ao tudo ou nada do pôquer. Mas
passou a ser entendido literalmente, dada a situação. Tudo dentro. De
Paula, e de Jill.
Todo império em seu declínio alterna momentos de drama com momentos
cômicos, agonia e risos, crispação e gargalhadas. A maior contribuição
que Petraues deu a seu país, e ao mundo, talvez tenha sido a comédia
amorosa com a qual ele forneceu risos em escala mundial.
Diário do Centro do Mundo
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