É sintomático o recuo do deputado Odair Cunha e do presidente do PT, Rui Falcão, em relação ao indiciamento de jornalistas claramente acumpliciados com o crime organizado.
O PT tornou-se um partido invertebrado. No Congresso, a bancada inteira pesa menos que um Álvaro Dias.
E invertebradas são as instituições brasileiras. Instituições têm a
Inglaterra, capazes de julgar os abusos de Rupert Murdoch sem receio de
que seus magistrados sejam atingidos por ataques pessoais ou que se
coloque em dúvida o compromisso das instituições com a democracia.
O próprio relatório inicial de Odair Cunha deixava claro que, ao propor o
indiciamento do diretor da Veja em Brasília, Policarpo Jr., não se
cogitava em brigas políticas ou em atentados à liberdade de imprensa,
mas em combater especificamente alianças de veículos e jornalistas com o
crime organizado. Era uma maneira de depurar a mídia e trazer a
discussão dos limites da imprensa para uma arena republicana: o
Judiciário, e não nas bobagens de um conselho de jornalismo, como se
cogitou anos atrás.
Nem isso se consegue.
No Brasil, graças à covardia generalizada das instituições – Judiciário,
Executivo, Legislativo e partidos –, a resistência contra essa aliança
mídia-crime é individual, voluntarista, sujeitando os resistentes a
ataques pessoais devastadores, porque sem limites judiciais.
Na série "O caso de Veja" (https://sites.google.com/site/luisnassif02/)
relato com pormenores algumas dessas jogadas. Mostro o massacre sobre a
juíza Márcia Cunha, que concedeu liminar contra Daniel Dantas; a
armação contra o desembargador que confirmou a liminar; os ataques aos
jornalistas que ousaram denunciar a trama. Mostro a parceria da revista
com os esquemas de Dantas e Cachoeira. Em vão!
A abertura para as parcerias criminosas surgiu, inicialmente, da falta
de limites aos exageros da mídia. O que, no início, era apenas mau
jornalismo, tornou-se uma falta de critérios generalizada. Para alguns
veículos, abriu-se a brecha para se oferecer como agente de guerras
comerciais ou criminosas, como ocorreu na parceria Veja-Cachoeira ou
Veja-Dantas.
É um sistema que, hoje em dia, não poupa ninguém, de presidentes de
Tribunais a procuradores, de políticos a administradores ou vítimas
meramente do mau jornalismo ou de jogadas criminosas.
Quem puder comprar proteção, faça como Ayres Britto. Quem se insurgir
contra esse poder devastador, sofra as consequências, como Márcia Cunha.
Quando o indescritível Ministro Luiz Fux diz que o Judiciário não teme
ninguém, digo, ele mente: teme o poder dos ataques individualizados da
mídia. Teme sim, da mesma maneira que Odair Cunha, Rui Falcão, Ayres
Britto e outros.
Só se melhorará a mídia com limites institucionais definidos pelo
Judiciário ou pelo Legislativo, não pelo voluntarismo de pessoas que
terminarão destruídas pelo poder avassalador da prática da difamação em
larga escala.
Mas há falta generalizada de estadistas em todos os poderes da República.
Luis Nassif
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