Parece inacreditável mas, em pleno século XXI, o Brasil
ainda se debate com questões – como a separação do Estado e da Igreja – que, em
alguns países, já foram resolvidas há mais de um século, inclusive no nosso
vizinho Uruguai.
O pior é que os líderes religiosos de confissões minoritárias
não percebem que a maior vítima de um Estado confessional, ainda que não se
assuma enquanto tal, são justamente as denominações religiosas não-hegemônicas.
Que a “retaguada do atraso” (José Sarney) tenha se pronunciado contra a medida do MP que pede a retirada da expressão “Deus seja louvado” das cédulas do Real não constitui nenhuma surpresa. Foi ele quem determinou a colocação da frase na moeda nacional quando era presidente. Poucos – os “encrenqueiros de sempre” – protestaram na época, mas a decisão, além de ferir um preceito constitucional, revela o espírito colonizado que copiou a fórmula que os norte-americanos cravaram nas notas de dólar (In God We Trust).
Que a “retaguada do atraso” (José Sarney) tenha se pronunciado contra a medida do MP que pede a retirada da expressão “Deus seja louvado” das cédulas do Real não constitui nenhuma surpresa. Foi ele quem determinou a colocação da frase na moeda nacional quando era presidente. Poucos – os “encrenqueiros de sempre” – protestaram na época, mas a decisão, além de ferir um preceito constitucional, revela o espírito colonizado que copiou a fórmula que os norte-americanos cravaram nas notas de dólar (In God We Trust).
Agora, falta o MP exigir que
os símbolos religiosos, como os crucifixos, sejam retirados das repartições públicas.
Ou então que sejam também colocados símbolos da umbanda, do budismo, do judaísmo, do
islamismo... Aliás, qual seriam os símbolos dos ateus e agnósticos?
Abaixo, o texto do Leonardo
Sakamoto sobre o tema:
"Deus seja louvado" ou "Deus não existe": o que soa melhor na nota de Real?
Na França, os símbolos religiosos de sedes de governos, tribunais e escolas públicas no final do século XIX. Nossa primeira Constituição republicana já contemplava a separação entre Estado e Igreja, mas estamos 120 anos atrasados em cumprir a promessas dos legisladores de então
Por Leonardo
Sakamoto, em seu blog
A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão de São
Paulo pediu que a Justiça Federal determine que as novas notas de reais a serem
impressas venham sem a expressão “Deus seja louvado”.
De acordo com o MPF, o Banco Central (responsável pelo
conteúdo das notas) informou que o fundamento legal para a inserção da expressão
“Deus seja louvado” nas cédulas é o preâmbulo da Constituição, que afirma que
ela foi promulgada “sob a proteção de Deus”. Depois, teria permanecido por uma
questão de tradição.
O procurador regional dos Direitos do Cidadão,
Jefferson Aparecido Dias, lembrou – em nota divulgada pelo MPF – que não existe
lei autorizando a inclusão da expressão nas cédulas. “Quando o Estado ostenta
um símbolo religioso ou adota uma expressão verbal em sua moeda, declara sua
predileção pela religião que o símbolo ou a frase representam, o que resulta na
discriminação das demais religiões professadas no Brasil”.
Um trecho da ação civil pública exemplifica bem isso:
“Imaginemos a cédula de real com as seguintes expressões: ‘Alá seja louvado’,
‘Buda seja louvado’, ‘Salve Oxossi’, ‘Salve Lord Ganesha’, ‘Deus Não existe’.
Com certeza haveria agitação na sociedade brasileira em razão do
constrangimento sofrido pelos cidadãos crentes em Deus”.
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