O relatório do
deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPMI do Carlos Cachoeira, provocou uma
forte reação dos grandes meios de comunicação: editoriais do Estadão e da Folha
e matérias dos colunistas do Globo.
E podem esperar que vem mais por aí. O estopim de tanta ira santa foi o indiciamento, pela CPMI, de Policarpo Júnior, diretor da sucursal de Brasília de Veja.
E podem esperar que vem mais por aí. O estopim de tanta ira santa foi o indiciamento, pela CPMI, de Policarpo Júnior, diretor da sucursal de Brasília de Veja.
Neste texto abaixo, o jornalista Luis
Nassif explica como esse indiciamento pode ajudar a grande mídia a rever suas
práticas duvidosas. Pessoalmente, duvido; acho que é otimismo demais. Ver as práticas
recorrentes dos grandes veículos da grande mídia tupiniquim me faz recordar a
frase atribuída a Bismarck, de que é bom que o povo não saiba como são feitas
as leis, os jornais e as salsichas.
A importância do relatório da CPMI para a própria mídia
Luis Nassif, em seu blog
No final dos anos 90 escrevi um conjunto de colunas na Folha, sobre os desvios e abusos da cobertura jornalistica.
Na Abril, Roberto Civita xerocou e enviou para diretores de redação de diversas publicações. No Estadão, Ruy Mesquita encaminhou cópias para o diretor de Redação Aluizio Maranhão. Na RBS ocorreu o mesmo processo. Na Folha, além do espaço que me davam, havia a figura do ombudsman e do Painel do Leitor permitindo algum contraponto.
Luis Nassif, em seu blog
No final dos anos 90 escrevi um conjunto de colunas na Folha, sobre os desvios e abusos da cobertura jornalistica.
Na Abril, Roberto Civita xerocou e enviou para diretores de redação de diversas publicações. No Estadão, Ruy Mesquita encaminhou cópias para o diretor de Redação Aluizio Maranhão. Na RBS ocorreu o mesmo processo. Na Folha, além do espaço que me davam, havia a figura do ombudsman e do Painel do Leitor permitindo algum contraponto.
Da esquerda para a direita: Policarpo Jr., Carlinhos Cachoeira, Demóstenes Torres e José Roberto Arruda |
Por
trás desse interesse, a preocupação com um projeto de lei de um deputado
federal de São José do Rio Preto – e, se não me engano, de Ibrahim Abi-Ackel –
definindo de forma mais rigorosa punições contra abusos de mídia.
O
projeto arrefeceu e, com ele, arrefeceu a intenção da mídia de praticar um
jornalismo mais responsável.
De lá
para cá, o jornalismo investigativo foi piorando e enveredando por caminhos
que, muitas vezes, ultrapassaram os limites da legalidade. Especialmente depois
dos episódios Veja-Opportunity e Veja-Cachoeira.
Criou-se
um círculo vicioso do qual a própria mídia se tornou prisioneira.
Nos
últimos anos, o padrão de jornalismo investigativo no país foi dominado ou por
vazamentos de autoridades (MPF, PF, TCU etc), o que é legítimo, ou pelo
relacionamento mais promíscuo com criminosos e lobistas – casos do
“consultor que acabara de sair da cadeia, invasão do hotel de José
Dirceu, as capas da Veja sobre maluquices (como propinas de R$ 200 mil sendo
levadas ao Planalto em envelopes), grampos obtidos de maneira criminosa etc.
Esse
movimento acabou gerando uma competição degradante, que vitimou até
profissionais sérios da mídia. É o caso de Eumano Silva, excelente profissional
da revista Época, flagrado em conversas com pessoas ligadas a Cachoeira. Por
que se envolveu com Cachoeira? Porque criou-se uma competição com a
escandalização desenfreada da Veja que acabou pressionando profissionais sérios
a seguirem modelos de atuação de diversos inescrupulosos que invadiram a
profissão.
O
indiciamento de Policarpo Jr não significa sua condenação nem a da revista.
Vai-se abrir um inquérito onde todas as partes serão ouvidas e todos poderão se
defender. Mas – importante – permitirá uma freada de arrumação para a própria
mídia e uma discussão séria, em um ambiente neutro, sobre os limites da
cobertura jornalística.
A
competição espúria
Ainda
no final dos anos 90, escrevi um artigo sobre o fim do projeto Folha – como
tal, entendida aquela simplificação de tratar todo funcionário público como
preguiçoso, todo usineiro como caloteiro, todo banqueiro como ganancioso, todo
movimento social como baderneiro.
Chegou-se
a montar um seminário interno, na própria Folha, para analisar a nova
etapa, inclusive frente às novas mídia que cresciam. No fim, preponderou a
visão medrosa: e se pararmos com nosso modelo atual e o Globo (que começava a
crescer) ocupar o espaço? Minha resposta é que seria ótimo, porque era um
espaço sem futuro.
Mas
abrir mão de uma posição que deu a liderança, até aquele momento, por um novo
estilo, exige coragem e determinação. E os veículos de mídia são extremamente
conservadores e refratários a mudanças, com medo de perder a clientela, mesmo
que declinante.
O
indiciamento de Policarpo será a pausa para esse momento de reflexão da própria
mídia. O caso será analisado pelo Ministério Público Federal e pela Justiça –
poderes teoricamente neutros. A discussão abrirá espaço para uma revisão dos
métodos atuais e para um revigoramento da liberdade de imprensa, porque, daqui
para frente, calçada em princípios legitimadores, não nesse vale-tudo atual.
Nenhum
procurador, de ofício, tomará a iniciativa de agir. Nenhum Ministro de tribunal
ousará, porque iniciativas individuais são alvejadas com ataques pessoais que
intimidam qualquer um. Daí a importância de uma ação institucional, que se
inicie no Congresso, passe pelo MPF e pelos tribunais. Até para comprovar que
não existem intocáveis no país.
Se a
CPMI recuar, perder-se-á uma oportunidade única de melhorar o ambiente
jornalístico e legitimar a ação da mídia.
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