Jogo vira a favor da presidente; com três cartas
sobre a mesa, Dilma Rousseff barrou as apostas contra; investidores
mandam sinais de aprovação tanto para Luiz Carlos Trabuco, Nelson
Barbosa e Henrique Meirelles; presidente do Bradesco,
ex-secretário-executivo da Fazenda e ex-presidente do BC são craques no
jogo do mercado financeiro; eles conhecem atalhos para atrair
investimentos, gostam de controlar despesas e tem vocação para o
crescimento; conheça as chances de cada um
247 – Um jogo que parecia perdido está virando a
favor da presidente Dilma Rousseff. Até o final da semana passada, antes
de conseguir a reeleição, tudo o que Dilma fazia ou dizia atentava
contra ele própria no chamado mercado. Pesquisas a favor da presidente
correspondiam a quedas nos principais índices econômicos, especialmente
na Bolsa de Valores de São Paulo e no câmbio. Quando perdia terreno para
Aécio Neves, os investidores e especuladores soltavam foguetes e a
marcas subiam na mesma velocidade. Ao crescer, Dilma derrubava as
expectativas. Para os analistas montados em espaços da mídia
tradicional, a presidente, no final das contas, só errava.
A partir do pronunciamento das urnas, porém, a partida ganhou uma
feição bem direfente. Com rapidez, Dilma retomou a iniciativa, discursou
pela união e pelo diálogo nacional, assumiu que havia se distanciado
mais do que desejava das forças produtivas e, melhor de tudo, deixou
correr a versão, verdadeira, de quem está fixada na escolha de um entre
três nomes para o comando do Ministério da Fazenda – a saber, o
verdadeiro fiador da política econômica.
Após uma segunda-feira 27 de ressaca das eleições, a Bovespa só fez
subir nos dias seguintes. Na base do crescimento do valor das ações das
companhias brasileiros estão os chamados rumores positivos. A presidente
deixou circular, sem nenhum sinal de desmentido, que o ministro Guido
Mantega encerrará seu período na Fazenda com tranquilidade. Acrescentou
que ela própria não tem toda a pressa do mundo em anunciar o sucessor
dele, o que deverá acontecer ao longo do mês de novembro. E, numa jogada
de mestra, fixou-se em três em três nomes que agradaram em cheio aos
investidores.
Na primeira deixa, o governo lançou, informalmente, o nome do
presidente-executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. Foi um
estorou. Tanta na mídia quanto empresas privadas e consultorias
financeiras, o nome de Trabuco foi saudado como uma grande solução de
mercado. À frente do banco de maior capilaridade do País, Trabuco vai
realizando um trabalho que soma lucros para os acionistas e inclusão
bancária para populações mais carentes. Na classe média, ele é
reconhecido com o líder de uma instituição sólida, antiga e que dá
atenção para pequenos poupadores e empresários de todos os portes,
inclusive os pequenos.
Formado em Filosofia, com uma história de sucesso dentro do banco, no
qual entrou como contínuo, em 1969, Trabuco tem um sotaque interiorano
que é o mesmo de grande parte da população. Sem exibicionismo, ele tem
colecionado resultados a cada trimestre melhores no Bradesco. Nesta
quinta-feira, o lucro reportado pelo banco nos nove primeiros meses do
ano foi nada menos que 25% maior no período anterior. As despesas da
instituição ficaram abaixo da inflação e os ativos administrados
chegaram bem perto de R$ 1 trilhão. Resultado: as ações do banco
dispararam em alta na Bovespa.
Ex-secretário-executivo da Fazenda, o economista Nelson Barbosa
deixou a equipe de Guido Mantega com divergências sobre a política
econômicas, mas não perdeu a confiança da presidente. Ele se tornou,
desde então, um dos principais conselheiros dela, com a grande vantagem
de saber onde estão os nós e os laços das contas públicas. Dilma
acostumou-se a convocar Barbosa para ter uma segunda opinião. Ele, por
sua vez, não saiu atirando, foi extremamente econômico em entrevistas e,
assim, poupou sua imagem para, agora, ter chances reais de ser o nome
capaz de encarnar o binômio continuidade com mudança.
- A presidente confia em Barbosa. Ele sabe os pontos em que ela é
turrona, e ele conhece os pontos que ela não negocia. Se entendem muito
bem, contou uma fonte palaciana.
Para completar a trinca de ases, a presidente tem ainda um nome
considerado acima do bem e do mal pelo mercado financeiro: Henrique
Meirelles. O ex-presidente do Bank Boston e do Banco Central da era
Lula, é simplesmente o cara que formou as bases para as atuais reservas
de mais de US$ 300 bilhões que o Brasil possui. Com Meirelles, discreto
mas que, quando quer, sabe aparecer, a inflação nunca fugiu da meta,
permanecendo em seu centro.
Entre auxiliares de Dilma, os três nomes estão vivos. A presidente
está descansando na Bahia, e de lá mesmo poderá fazer os contatos
necessários para definir sua escolha.
Trabuco precisará ser convencido a deixar o comando do Bradesco, o
que não é tão simples assim. Porém, o fato de ele não ter reclamado da
inclusão de seu nome na lista da presidente já é visto como um sinal de
que, bem convidado, ele aceitaria a missão.
Para Barbosa, o movimento é mais simples. Ele já é das relações de
Dilma, tem todo o conhecimento da máquina e faria uma transição natural
com Mantega. Nesta medida, é, neste momento, o favorito.
Quanto a Meirelles, ocorreram diferenças com Dilma durante o governo
Lula. Mas o próprio Lula, agora, recomenda a sua parceira a superação
das pequenas rusgas para a inauguração de uma novo relacionamento. Pode,
assim, ser ele o nome.
O fato comum é que, com qualquer um dos três, Dilma fez o que de
melhor poderia ter feito nessa fase de articulações: preencheu o vácuo,
expôs preferencias e agradou o mercado. Quer mais?
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