Um declarado eleitor de Aécio Neves, o advogado criminalista Antonio
Carlos de Almeida Prado, o Kakay, disse o seguinte ao blogueiro Josias
de Souza, do UOL: “Houve uma grave instrumentalização do Poder
Judiciário.”
Kakay estava se referindo à liberação seletiva de trechos dos
depoimentos em casos de delação premiada pelo juiz paranaense Sérgio
Moro.Repito: Kakay disse a Josias que vai votar em Aécio. “Até fui a um jantar de adesão. (…) Alternância no poder é importante. Não quero que o Brasil fique fossilizado como São Paulo, administrado há duas décadas pelo PSDB.”
O ponto central de Kakay é: por que parte do vazamento é aberta e parte não, e justamente às vésperas de uma eleição presidencial?
“Parece brincadeira. Aqui, tem segredo. Ali, é tudo aberto. Isto se chama instrumentalização. É muito grave. A poucos dias da eleição, as consequências são gravíssimas.”
Nada foi aberto, por exemplo, em relação ao que os depoimentos trazem sobre Eduardo Campos, cuja família acaba de declarar apoio a Aécio.
Por quê? A resposta mais provável é que por trás dos vazamentos estão razões políticas e partidárias, e não de justiça.
Para Kakay, o juiz Sérgio Moro “está fazendo um jogo extremamente perigoso” – mas não surpreendente.
Moro, no Mensalão, ajudou a juíza Rosa Weber em seus trabalhos. Rosa entrou para a história ao condenar Dirceu com as seguintes palavras: “Não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite.”
Neste exato momento, Moro é candidato à vaga de Joaquim Barbosa no Supremo. Eleito Aécio, quais serão suas chances?
Num artigo publicado na Folha algumas semanas atrás, Kakay escreveu que os brasileiros estavam diante da seguinte situação: um delator – Paulo Roberto Costa – poderia ser o “grande eleitor” nas eleições presidenciais.
Com base em acusações não investigadas e nem, muito menos, provadas. Em seu artigo, Kakay imaginava a seguinte situação: e se Costa decidisse, por algum motivo, citar Dilma? Os brasileiros, neste caso, teriam um novo presidente escolhido por um delator.
Na entrevista a Josias, Kakay voltou à mesma lógica, apenas com o juiz Moro no lugar do delator.
“Como deveria ter procedido o juiz?”, perguntou o blogueiro — também ele insuspeito de qualquer simpatia pelo PT.
Respondeu Kakay: “A rigor, ele não cometeu ilegalidade. Os atos praticados nesta semana eram abertos. Mas as características do caso tornam a legalidade apenas aparente. Para evitar a burla à delação, o juiz deveria ter adiado os interrogatórios ou evitado a publicidade dos depoimentos até a eleição.”
Legalidade apenas aparente. É uma frase doída, porque veraz.
Esta é a Justiça Brasileira.
Fala como Justiça, se veste como Justiça, respira como Justiça — só não age como Justiça.
Pobre sociedade. Pobres brasileiros.
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