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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A VELHA RÚSSIA E O NOVO CZAR


Ex-chefe do KGB, Vladimir Putin é um czar moderno. Antes dele, o bebum Boris Yeltsin, que dirigiu a Rússia depois do colapso do comunismo, escancarou o país ao ocidente, trazendo anos de decadência, estagnação, criminalidade, desemprego e pobreza crescentes. Putin restaurou parte do tecido social destruído, além de ter restabelecido o orgulho nacional ao reafirmar os interesses geopolíticos de Moscou frente ao Ocidente. Mas, do ponto de vista interno, ele é a reencarnação da autocracia russa. Os russos nunca viveram uma democracia; logo, eles estão tendo a árdua tarefa de construí-la. E essa tarefa envolve inclusive a luta pela liberdade de expressão de grupos de música, como as meninas das Pussy Riots, que podem ser presas por protestarem contra Putin, mas também contra os valores tradicionais.     “Feminismo é um pecado mortal", diz acusação no caso das Pussy Riots


Julgamento da banda punk expôs sistema jurídico imparcial e grupos da sociedade conservadores e religiosos

Do Operamundi
Com frases como “o feminismo é um pecado mortal”, o julgamento da banda punk feminina Pussy Riots completou seu sexto dia e reabriu questionamentos sobre a imparcialidade da justiça, bem como do lado religioso e conservador da sociedade russa.
Integrantes das Pussy Riots no tribunal em Moscou
A Promotoria russa exigiu nesta terça-feira (7/8) uma pena de três anos de prisão para as integrantes da banda, sustentando que representam uma ameaça para a sociedade pela possibilidade de realizarem outros protestos no país. No último dia para as falas da acusação, as artistas foram denunciadas pelo crime de desrespeito à religião.

Os promotores e advogados de acusação sustentam que a apresentação da banda em uma Igreja Ortodoxa, em fevereiro desse ano, não constituiu uma ação política, mas sim de ódio religioso. Prova disso, afirmam eles, é que nenhum político foi citado na canção de nome “Virgem Maria, expulse Putin”. “Elas debocharam e humilharam as pessoas na Igreja”, disse o promotor Alexei Nikiforov. “Usar palavrões numa igreja é um abuso contra Deus”, completou ele.

Perguntas como “O que a religião ortodoxa significa para você?”, “As roupas delas eram apertadas?” e “O que te ofendeu com as máscaras que usavam?” foram feitas para as testemunhas da acusação, que estavam na Igreja no momento da intervenção artística. Uma delas se contradisse ao afirmar que escutou uma música na catedral, sendo que a banda acrescentou depois os instrumentos no vídeo divulgado no YouTube.
Baseando-se nas impressões de fiéis ofendidos com a performance das Pussy Riots, uma das advogadas da acusação chegou a afirmar que o feminismo é um crime. “Todas as rés declararam ser feministas e disseram que isso é permitido na Igreja Cristã-Ortodoxa”, disse Yelena Pavlova. “Isso não corresponde com a realidade. O feminismo é um pecado mortal”, completou.

“Elas tem de ser isoladas da sociedade”, afirmou Alexei Nikiforov, que pediu três anos de prisão para todas as integrantes da banda pela apresentação. O promotor poderia ter exigido a condenação máxima de sete anos, mas parece ter seguido os conselhos do presidente russo. Vladimir Putin na semana passada disse que as mulheres não “fizeram nada de bom”, mas não devem ser julgadas tão duramente.

Resistência

O presidente russo parece ter seguido o conselho do advogado de defesa, Mark Feigin, das Pussy Riots, que alertou que uma condenação “romperia definitivamente as relações entre a sociedade e o governo russo”. O julgamento, assim como a marcha contra as eleições que reelegeram Putin, uniram grupos de oposição que sustentam que o governo russo persegue seus críticos.

Segundo eles, as denúncias contra a banda punk fazem parte de um esforço de Putin para intimidar a sociedade e russa. “Eles declaram guerra contra nós!”, alertou o líder esquerdista Sergei Udalstov em protesto no final de julho pela libertação das músicas que reuniu milhares de pessoas. “Para a sua rejeição da lei, existe uma resposta da rua”, disse Feigin.

Na sexta-feira (3/8), três homens escalaram as paredes do tribunal, utilizando gorros em suas caras como o das mulheres, e gritaram “Liberdade às Pussy Riot!” das janelas, informou o jornal britânicoThe Guardian. Segundo a correspondente do jornal em Moscou, outros atos semelhantes aconteceram em outras cidades do país.
Figuras importantes da arte na Rússia protestaram a favor das acusadas, como Petr Pavlesnky  que costurou sua boca em solidariedade à banda punk. A luta das artistas atravessou os oceanos e mobilizou diversos famosos, como Sting e Red Hot Chili Peppers e até Madonna que realiza shows no país nesta semana. 
“Em um primeiro momento, depois dos protestos contra Putin em dezembro, as autoridades se assustaram”, explicou o advogado de defesa Nikolai Polozov. “Agora, eles se recuperaram e começaram a reagir – o julgamento da ‘Pussy Riots’ é claramente o primeiro passo”, acrescentou de acordo com o Guardian
Imparcialidade da justiça
Grupos russos e internacionais que apoiam a luta das artistas estão cada vez mais indignados com as atitudes da justiça na condução do processo. Enquanto todas as testemunhas de acusação foram autorizadas pela juíza Marina Syrova, apenas 3 das 13 testemunhas nomeadas pela defesa puderam ser interrogadas no julgamento. Syrova também foi responsável por permitir uma série de perguntas da acusação às testemunhas, mas vetou que a defesa realizasse as mesmas questões.
A justiça russa já recusou diversos pedidos judiciais da defesa, incluindo uma apelação para enviar o processo de volta à Promotoria, já que não existem provas suficientes. Os advogados de defesa da “Pussy Riots” impetraram pedido no tribunal para chamar o representante da instituição religiosa a testemunhar no processo que foi negado, informou a rede Interfax. 
 “Mesmo nos tempos soviéticos, nos tempo de Stalin, os julgamentos eram mais honestos do que esse”, afirmou Polozov durante o tribunal.

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