O Brasil declarou-se independente
de Portugal em 7 de setembro de 1822, contudo, o Grão-Pará não era
Brasil. E essa província recusava-se em subordinar-se ao Estado
brasileiro, preferindo continuar ligada a Portugal.
Teve destaque nessa relutância o
cônego Batista Campos, apoiado principalmente por comerciantes
brasileiros. Ele e o grupo do qual fazia parte, os Patriotas (liberais
radicais), conseguiram, em janeiro de 1823, reunir número suficiente de
pessoas para jurar fidelidade à Constituição lusitana. No entanto,
deposta a junta governativa pelo imperador, os rebeldes exigiam a
formação de um governo popular, sob a chefia de Batista Campos.
Refugiados no interior, os patriotas
passaram a conspirar contra o governo, ganhando apoio das populações
locais. As vilas de Cametá, Santarém, Macapá, Mazagão, Monte Alegre e
Vigia transformaram-se em verdadeiros núcleos de conspiração. A adesão
das massas populares às propostas de Batista Campos constituíram o
começo de um processo que iria ter seu ponto culminante mais de dez anos
depois com a Cabanagem. Os núcleos de rebeldes assim constituídos
isolaram a junta portuguesa, o que facilitaria posteriormente a tarefa
do almirante Greenfell, enviado pelo imperador para impor um governo
fiel.
Em 27 de fevereiro de 1823, após
disputada eleição, foi eleita a Primeira Câmara Constitucional de Belém,
composta por nove vereadores. Contudo, o governador das armas,
comandante das tropas portuguesas, general José Maria de Moura, não
estava feliz com a eleição e posse desses vereadores tidos como
independentes à política de predomínio português, e por isso não
compareceu à instalação da Câmara no Paço do Conselho. Ele reuniu seus
comandados, os de maior confiança entre seus oficiais, em sua própria
casa, decidindo o que fazer diante do fato da sempre crescente decisão
paraense de aderir à Independência.
O coronel João Pereira Vilaça deu
início ao motim em primeiro de março, prendendo imediatamente os
vereadores, em sessão no Paço do Conselho, distribuindo-os encarcerados
nos quartéis de várias localidades do interior como Chaves, Acará, Monte
Alegre, dentre outros.
Com o objetivo de apressar a adesão
do Pará, foi mandado José Luís Arosa, um revolucionário do eixo Rio/São
Paulo, e que teve logo o apoio de um italiano, João Batista Balby, que
trabalhou intensamente para convencer os oficiais brasileiros para a
causa.
João Balby, acompanhado de oficiais e
soldados do Regimento de Macapá, no dia 14 de abril, entrou no quartel
do Corpo de Artilharia, no Convento de Santo Antônio. Os rebelados
detiveram a tropa do tenente-coronel José Antônio Nunes, com o domínio
de todo o quartel. Mas a conspiração foi dominada pelos comandados do
general Moura com o apoio da tropa do coronel Vilaça. Os participantes
da revolta só não foram executados sumariamente graças ao bispo D.
Romualdo Antônio de Seixas, mais tarde Marques de Santa Cruz.
Atentos às manifestações contrárias, os portugueses procuraram reforçar então suas defesas, como as baterias de Val-de-Cães, a Fortaleza da Barra, os fortes do Castelo e de São Pedro Nolasco, impedindo a estrada de navios no porto. No dia 11 de agosto de 1823, entretanto, uma nau de guerra, de bandeira brasileira, fundeou na baía de Guajará. O comandante do barco, o capitão inglês (a serviço de D. Pedro I) John Pascoe Greenfell enviou, à terra, ofício do chefe da Esquadra Imperial, Almirante Alexandre Thomas Cockrane, de que o porto de Belém estava bloqueado e as forças imperiais exigiam a rendição de quem se opunha à Independência Brasileira, alegando que só restava o Pará ser integrado, e que ele se encontrava com uma esquadra de navios fora da barra, prontos para assegurar a adesão. Mas na verdade, ele só tinha um navio, porém essa estratégia já havia sido usada no Maranhão e dada resultada.
Para conseguir a adesão com mais
facilidade, Greenfell afirmava que as propriedades dos portugueses que
aderissem ao Estado brasileiro seriam garantidas, devendo apenas prestar
juramento de obediência à Sua Majestade Imperial.
A Junta Governativa que era
presidida por D. Romualdo de Sousa Coelho, resolveu reunir
extraordinariamente um conselho para deliberar sobre a situação. Ás 7
horas da noite de 11 de agosto, no Palácio do Governo, a junta
governativa reuniu-se, tendo o comandante das armas José Maria Moura
procurado adiar a decisão do Conselho, o que não ocorreu, pois o povo
presente à reunião bradava, exigindo a adesão. A reunião encerrou-se às
23 horas com a decisão de que o Pará estava independente de Portugal,
unindo-se ao Império. Em 15 de agosto de 1823, foi Proclamada da Adesão
do Pará à Independência do Brasil. O brigue do capitão Greenfell deu
salva de 21 tiros, respondido pela fortaleza da barra, anunciando o
hasteamento da bandeira brasileira. No palácio do Governo, as
autoridades formalizaram, solenemente, o ato da Adesão, com o povo,
comemorando nas ruas.
Tudo parecia resolvido, contudo,
deposta a junta, os patriotas refugiados no interior exigiram a formação
de um governo popular, sob a chefia de Batista Campos. Desmascarado o
plano do comandante Greenfell, começaram as manifestações dos
adversários e da própria população, contra a recém instalada Junta
Provisória, acusada de manter no poder os comerciantes e latifundiários
portugueses. Sem controle, os revoltosos invadiram as residências
portuguesas e saquearam suas casas comerciais. O cônego Batista Campos,
numa tentativa de evitar alguns desses conflitos, foi acusado pelo
comandante inglês como um agitador político.
Com autoritarismo, disposto a manter
a “ordem”, Greenfell executou friamente 5 homens, como forma de
reprimir as manifestações populares, e amarrou Batista Campos à boca de
um canhão aceso. Membros da Junta Provisória intercederam e recomendaram
a transferência do Cônego para ser processado e julgado no Rio de
Janeiro. Greenfell recuou e soltou Batista Campos. Mas, não satisfeito
com as execuções, aprisionou 256 suspeitos, por tempo indeterminado, no
porão do brigue “Palhaço”, comandado pelo tenente Joaquim Lúcio
Azevedo.
Já alta noite, com a sua guarnição e
marujos dos navios mercantes, Greenfell prendeu e mandou recolher à
cadeia todas as pessoas encontradas pelas ruas e casas suspeitas, e
denunciadas sem distinção alguma.
Por volta de 250 homens foram presos
e transportados para o porão do brigue “Palhaço”, ancorado no porto de
Belém do Pará. Devido às insuportáveis condições, os homens confinados
berravam por água e por ar.
Para acalmar os ânimos, a tripulação
atirava, divertindo-se com os gritos dos agonizantes no porão, pelo
calor e a sede. Aumentando a crueldade, foi lançada sobre os
prisioneiros uma nuvem de cal viva. No dia seguinte, apenas quatro ainda
viviam e, no dia posterior, somente um restava, João Tapuia. No total
morreram 252 milicianos e praças, sufocados e asfixiados.
Sobre o ocorrido Laurentino Gomes relatou que
“eram sete horas da manhã do dia
22 quando se correu a escotilha do navio em presença do comandante... E o
que viu ele? Um montão de duzentos e cinquenta e dois corpos, mortos,
lívidos, cobertos de sangue, dilacerados, rasgadas as carnes com
horrível catadura e sinais de que tinham expirado na mais longa e penosa
agonia”.
John Greenfell eximiu-se de
responsabilidade pelo ocorrido, argumentando que o ataque não se
executara por ordens suas. Devido a este clima de desespero e crueldade,
os caboclos e tapuias paraenses começaram então a percorrer os
primeiros passos da longa trilha que levaria ao início do advento da
Cabanagem, dez anos depois, em 1835.
Centro histórico de Belém em foto atual |
historiacsd.blogspot.com.br/com bolog EdilzaFontes
Parabéns pelo seu trabalho!!!
ResponderExcluirgostei
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