Fato: Obama perdeu o debate da noite de ontem em Denver, Colorado.
Mitney, muito mais à vontade e inspirado que o oponente, ficou na
ofensiva o tempo todo, e levou a discussão para a economia – campo em
que as realizações de Obama são pífias.
Questão: o quanto isso pode influir na eleição? Quero dizer: no
favoritismo de Obama. Historicamente, debates têm uma influência
limitada nos resultados das urnas. Quase todos os eleitores já sabem em
quem vão votar. Fora isso, haverá ainda outros dois. As pesquisas
pós-Denver darão uma idéia melhor do impacto do embate de ontem.
Obama parecia cansado. Os cabelos grisalhos são a testemunha visível
de quanto lhe pesaram os quatro anos na Casa Branca. Romney, com seu ar
de canastrão de novela, lembrou Ronald Reagan, que governou os Estados
Unidos nos anos 1980, no desembaraço e na capacidade de falar platitudes
como se fosse Platão.
Nos debates de quatro anos atrás, Obama era outro. Simbolizava a
esperança de uma quase revolução nos Estados Unidos, depois dos trágicos
dois mandatos de George W Bush.
As altas expectativas em torno dele o ajudaram então. Agora, pesam
contra ele. Obama foi, numa palavra, uma enorme decepção. Na política
interna, ou por impotência diante de um Congresso hostil ou por inépcia
mesmo, não fez nada para mitigar a monstruosa concentração de renda nos
Estados Unidos – da qual seu adversário Romney é um exemplo portentoso.
Na política externa, jogou tantas bombas nos países árabes quanto
Bush. É patético que sua maior realização, aspas, tenha sido a execução a
sangue frio de um Osaba bin Laden cego de um olho e desarmado por um
grupo de atiradores de elite altamente armados.
O drama americano está acima da capacidade de resolução de Obama ou
Romney. Os Estados Unidos acabaram por se tornar uma superpotência que
gasta muito mais do que pode para manter bases militares em todo o
mundo.
Sua estratégia de hegemonia – como se vê no Oriente Médio – é à base
de guerras, e isso fez os americanos serem quase que universalmente
detestados e combatidos. O mito do “campeão do mundo livre” se desfez há
muito tempo.
Os Estados Unidos vivem um declínio que se explica, em parte, num
sistema político em que dois partidos tão diferentes, aspas, como Coca e
Pepsi se revezam no poder sem que nada, no fundo, mude. Governos de
ricos, por ricos e para ricos vão se sucedendo uns aos outros.
Em seu excelente livro “O Manifesto de Vermonte”, o economista americano Thomas Naylor, professor emérito da prestigiada Universidade Duke, definiu com precisão o quadro dos Estados Unidos.
Palavras de Naylor: “A única forma que a América tem de salvar a si
mesma é se tornando menor, menos centralizada, menos poderosa, menos
intrusiva, menos materialista, menos militarizada, menos violenta, mais
democrática, e mais atenta aos interesses dos cidadãos e das pequenas
comunidades. Grandes corporações, grandes partidos políticos, grandes
sistemas de segurança e grandes estruturas militares, tudo isso é parte
do problema. O Império está nu.”
Obama e Romney, parafraseando Naylor, são também eles parte do problema — não a solução.
Paulo Nogueira no DCM
Nenhum comentário:
Postar um comentário