O problema dela não é o destempero e sim um quadro agudo de esquizofrenia política
Soninha chamou Fernando Haddad de filho da puta em seu blog,
numa diatribe antipetista sobre o debate na Band. Questionada, primeiro
declarou: “Tava morrendo de raiva. Vou apagar”. Apagou. E emendou,
depois, através do serviço Ask.fm,
em que ela passa o dia respondendo perguntas (diga-se em sua defesa que
responde a todas, inclusive as mais ofensivas). “Sustento o que fiz.
Xinguei. Não devia. Apaguei.
Não passou a vontade de xingar, o que penso
sobre a conduta deles, mas nem todas as palavras que a gente pensa e
diz em uma conversa devem ser escritas”. Ela trocou o xingamento por
“MUITO cinismo”.
Soninha pisou na bola. Acontece. Perdeu a cabeça. Há alguns meses,
ela deu uma declaração infeliz sobre um problema no metrô paulistano, em
que milhares de pessoas foram afetadas. Soninha tascou que estava tudo
“sussa”. “Muito louco”, completou.
O que aconteceu com Soninha? Ela é uma serrista de longa data. A
questão, porém, é outra: Soninha, hoje, ocupa uma posição política
esquizofrênica. Ela é vendida como “alternativa”, com todos os sinais de
“modernidade”: usa o Twitter ininterruptamente; tem um blog (coordenou a
internet de Serra, aliás, na campanha presidencial); recicla lixo; é
budista; posou nua numa bicicleta; abusa de gírias e palavrões.
Mas, na prática, se alinha com o que há de mais conservador (segundo
Fernando Henrique Cardoso) na sociedade. Não dá para acreditar que ela
sua motivação seja dinheiro ou qualquer vantagem espúria. Seja o que
for, definitivamente, Soninha não representa novidade nenhuma. O bonde
passou. Ela faz o jogo político tradicional e com muito gosto.
Precisa ser assim? Ela poderia se espelhar, eventualmente, no Partido
Pirata Alemão, com representação em três estados do país. Um dos
líderes, Matthias Schrade, diz que eles querem tirar o poder das mãos
dos políticos e devolvê-lo aos cidadãos comuns. “Nós oferecemos
transparência, nós oferecemos participação”, afirma. Marina Falkvinge,
diretora do partido, causou sensação este ano pelo frescor das ideias. O Diário falou dela.
Soninha tem 45 anos e três filhas. Nasceu em Santana, bairro de
classe média de São Paulo, e foi VJ da MTV nos anos de ouro da emissora,
entre 1990 e 2000. Cristalizou uma imagem de porta-voz dos jovens.
Elegeu-se vereadora pelo PT em 2004 e saiu do partido em 2007. Foi
subprefeita da Lapa em 2009, já no PPS. No ano passado, assumiu a chefia
da Sutaco, Superintendência do Trabalho Artesanal, uma autarquia ligada ao governo de São Paulo.
Nesse tempo todo, não se ouviu falar de uma ideia renovadora, de uma
proposta diferente que tenha vindo dela. Está longe de ser uma idiota e
não é, até onde se saiba, corrupta. É articulada, inteligente. Mas, se
você acredita que ela seja uma opção aos velhos partidos só porque anda
de bike e come arroz integral, está na hora de rever seus conceitos — já
que os dela estão, infelizmente, enraizados no século passado
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