As práticas amplamente condenadas de Bush se tornaram aceitas quando foram adotadas por Barack Obama
O jornalista americano Glenn Greenwald foi convocado ontem pelo
jornal inglês Guardian para comentar ao vivo o terceiro e último debate
entre Obama e Romney. Greenwald, escreveu o jornal, estava entregue à
“titânica tarefa” de distinguir os dois candidatos.
Clap, clap, clap.
O tema ontem era a política externa. Ambos pareciam disputar quem vai bater mais no Irã por conta do alardeado projeto nuclear.
Como o próprio Greenwald já escreveu, as sanções americanas ao Irã –
“duríssimas”, nas palavras de Obama ontem – podem repetir o que
aconteceu no Iraque sob boicote do governo Clinton. Morreram 500 mil
crianças iraquianas, segundo levantamentos respeitados, por falta de
comida, remédios etc.
Alguns jornalistas americanos notaram um fenômeno interessante.
Práticas tidas pelos democratas como intoleráveis sob George W Bush
acabaram se tornando aceitas quando adotadas por Obama.
Um jornalista americano escreveu, antes do debate: “Se eu pudesse
fazer uma pergunta, seria esta: Senhor Obama, qual a diferença entre as
torturas de Bush e sua decisão de autorizar execuções sem julgamento?”
Obama e Romney parecem viver num mundo de fantasia. No debate, Romney
a certa altura disse, sobre a política externa americana: “Nós não
ditamos coisas. Nós salvamos países que estão sob ditaduras”.
Será que ele acredita nisso?
As origens do ódio do Irã pelos Estados Unidos datam do começo da
década de 1950, quando os americanos, aliciados pelo governo inglês de
Churchill, conspiraram e derrubaram o altamente popular presidente
iraniano Mossadegh.
O motivo: Mossadegh disse não a uma das maiores mamatas da história – a exploração de petróleo iraniano pelos britânicos.
Em seu excelente livro sobre a queda de Mossadegh, Todos os Homens do
Xá, o jornalista americano Stephen Kinzer, veterano correspondente do
NY Times, conta coisas que você atribuiria a teorias conspiratórias.
Agentes da CIA, por exemplo, escreviam artigos anti-Mossadegh que
eram imediatamente veiculados na mídia iraniana alinhada com os
interesses americanos e ingleses.
Derrubado Mossadegh – que defendia um regime laico, secular –, os
Estados Unidos devolveram o poder no Irã ao localmente abominado Xá Reza
Pahlevi.
A selvagem polícia política do xá matou milhares de iranianos até que
ele fosse derrubado, em 1979. O fundamentalismo do aiatolá Khomeini é
fruto do golpe dado pela CIA contra Mossadegh.
Um democrata admirado pelos iranianos foi substituído por um fantoche detestado e sanguinário.
Mas, para Romney, os Estados Unidos derrubam ditadores e instalam
democracias. Pinochet é uma prova disso. Os generais brasileiros de 1964
também.
Ao ver Romney e Obama, você logo concluí que o declínio americano é uma coisa positiva para a humanidade.
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