O terceiro e
último debate entre Mitt Romney e Obama teve um bom momento de risos, mas traz
reflexões.
Quando o candidato republicano, notório belicista, reclamou contra a
fragilidade da defesa do país, ao afirmar que a Marinha tem menos navios do que
os tinha em 1916, foi contestado com ironia por Obama: mas, governador, também temos menos baionetas e menos cavalos.
Ter menos navios, menos cavalos e
menos baionetas não torna os Estados Unidos um país militarmente débil. Como
sabemos, eles continuam sendo a maior potência militar do mundo, a que dispõe
de mais efetiva tecnologia para a destruição e a morte. Além de seus mísseis,
capazes de atingir com precisão qualquer ponto do planeta, e de seus artefatos
nucleares, com o poder de arrasar o mundo, os arsenais ianques dispõem de armas
novas, já testadas, movidas a propulsão magnética, e de aviões não tripulados que identificam
eletronicamente os alvos e os atingem sem interferência humana. A cada dia
mais, a tecnologia dispensa os soldados
nas operações destrutivas, e os reserva para tarefas de ocupação.
Quando qualquer nação não consegue
defender seus interesses, legítimos, ou não, mediante a diplomacia - o meio
mais antigo e efetivo da política externa - apela para as armas. O uso da força
é proporcional à debilidade do convencimento político. Na maioria das vezes,
como demonstra a história, as nações com ambição imperial combinam pressões diplomáticas e ameaça militar, antes
do uso efetivo das armas. Nesse particular, os Estados Unidos são exemplo mais
duradouro, desde que surgiram como estado independente.
Ao mesmo tempo, a guerra pode ser vista como expediente
do medo. É preciso, nesta razão zarolha, destruir o inimigo, antes que ele
ameace a nossa existência. Não foi a coragem germânica que fez Hitler, mas o
medo. E o medo cresce, na medida em que se acumulam os atos de violência bélica
contra os outros. Sempre se teme a possível retaliação.
Outro problema é o desgaste do poder militar, quando lhe falta o apoio moral dos povos a que pretende servir. Sem convicção é difícil vencer os conflitos armados. É o que ocorreu na guerra do Vietnã, e volta a ocorrer hoje, com relação ao Oriente Médio, não só nos Estados Unidos, mas também na Europa. Ainda assim, os analistas consideram que o debate sobre política internacional interessa menos aos eleitores norte-americanos de hoje. O que os move é a situação econômica, com o empobrecimento da maioria da população, e o enriquecimento, sempre mais atrevido, dos rentistas. O predomínio da ganância, na estrutura do poder nos estados modernos, está – mais uma vez – dividindo as sociedades nacionais. Isso tanto pode conduzir às revoluções libertadoras, quanto à apatia e ao conformismo, sob a tirania plutocrática.
Mauro Santayana
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