Milhões de americanos não se sentem representados nem pelos democratas e nem, tampouco, pelos republicanos.
O debate de ontem, o segundo duelo presidencial americano foi um choque de passados. O passado de Obama é os últimos doze anos, excetuados naturalmente os quatro dele mesmo. O passado de Romney são os quatro anos de Obama.
Entre os dois existe o consenso de que o presente americano é uma
lástima. Romney não para de falar nos 5 pontos de seu programa. Pego
carona e enumero os 5 pontos do declínio dos Estados Unidos.
1)Desemprego alto, símbolo de uma economia quebrada; 2) o fim da crença
quase universal no sonho americano; 3) perda de influência e de
admiração na arena internacional; 4) ganho de peso na balança graças à
indústria da junk food, e a emergência de um Império dos Obesos; 5) o
crescimento global de um antiamericanismo como nunca se viu. Raras vezes
se viu, na história da humanidade, um país tão universalmente
detestado. Império nenhum, ao longo dos tempos, conseguiu se manter
quando acumulou rejeição por todos os lados.
O que se viu, no segundo debate, foi mais uma vez a tentativa de os dois candidatos atribuírem o presente funesto um ao outro. Romney diretamente: ele pega as promessas de Obama da campanha passada e mostra, sem dificuldade, que nada foi realizado.
Obama põe a culpa em Romney indiretamente: o drama americano, segundo
ele, é fruto dos oito anos de administração de George W Bush. Romney e
Bush são do mesmo partido e defendem as mesmas coisas. Romney no poder
equivaleria, segundo a lógica de Obama, ao retorno de Bush. Ele está
certo.
Você vê os debates e pode ser tomado pela impressão de que os
americanos estão eletrizados pelas eleições. Não é verdade. O que
existe, na sociedade americana, descontado o circo armado em torno das
eleições, é uma mistura de apatia, descrença e indiferença. A abstenção
deve chegar a 50%.
Metade dos americanos não se sente representada nem por democratas e
nem por republicanos. São dois partidos essencialmente iguais, ou tão
diferentes quanto Coca e Pepsi. Um regime político da natureza do
americano, se estivesse presente na China, por exemplo, seria chamado de
ditadura de dois partidos.
Nos debates, você vê dois atores muito bem treinados. Romney mantém sempre o sorriso, o ar artificialmente autoconfiante de um médico — ou charlatão — capaz de devolver a saúde rapidamente a um doente já sem esperanças. A expressão de superioridade só o abandona quando ele se descuida muito. Mesmo assim, o lapso dura uma fração. No debate de ontem, isso aconteceu. Romney acusou Obama de não ter tratado imediatamente como “ato de terror” o ataque islâmico à embaixada americana na Líbia.
Mas Obama tinha falado rapidamente, sim, em terror. A mediadora do
debate confirmou. Obama, no único momento em que a plateia se manifestou
com aplausos, pediu que ela falasse de novo “mais alto”. Ela falou.
Ainda assim, mesmo contra os fatos, Romney insistiu em seu ponto.
O avanço da candidatura de Romney pode ter parado aí. Esta cena será
repetida milhões de vezes no YouTube e nas redes sociais. (Você pode
vê-la no pé deste texto.) Comentaristas políticos escreverão sobre como
Romney insistiu num ataque mesmo diante da evidência de que cometera um
erro.
Mas nada será capaz de tirar da letargia a chamada voz rouca das ruas
dos Estados Unidos. Para ela, as eleições presidenciais não merecem
sequer o esforço de ir até um posto de votação.
Free ilustration militanciaviva
Nenhum comentário:
Postar um comentário