Gleen Greenwald é um excelente jornalista americano. Escrevia para o Huffington Post, e agora seu passe foi adquirido pelo Guardian, britânico.
É uma pena que nenhuma publicação brasileira ofereça aos leitores os
textos de Greenwald, mas não uma surpresa: Greenwald não escreve as
coisas que as grandes corporações de jornalismo do Brasil se acostumaram
a veicular, num serviço que desinforma muito mais que informa e
distorce o mundo muito mais que o faz mais compreensível.
Greenwald, hoje, fala das consequências que o boicote americano ao
Irã vai trazendo à sociedade iraniana: mulheres, crianças, velhos, civis
em geral. Começa a faltar comida, por exemplo.
Ele relembra o que aconteceu com o Iraque quando submetido ao mesmo
tipo de coisa pelo governo de Bill Clinton: meio milhão de crianças
iraquianas morreram.
Na ocasião, um jornalista perguntou à então Secretária de Estado,
Madeleine Albright, sobre este abominável infanticídio em massa.
Infamemente, ela respondeu que o objetivo americano de derrubar Saddam
Hussein compensava esse custo – 500 000 crianças mortas.
Greenwald toca num ponto crucial: a ignorância do americano médio.
Recentemente, nos protestos antiamericanos nos países árabes, a opinião
pública americana se perguntava, perplexa: por que nos odeiam tanto?
“A maior parte dos americanos não tem a menor ideia, porque ninguém
conta para eles, de que as sanções que seu governo impôs ao Iraque
resultaram na morte de centenas de milhares de crianças, e igualmente
eles não têm agora a menor ideia de que o sofrimento dos iranianos
comuns vai crescendo substancialmente”, escreveu Greenwald em seu artigo
no Guardian.
Ora, por que tamanha ignorância?
Em grande parte, porque a mídia americana representa, essencialmente,
os interesses americanos. Os jornais americanos apoiaram a Guerra do
Vietnã durante muito tempo – e foram cegos para o massacre da população
vietnamita com armas como as bombas de napalm. George W Bush foi louvado
pelos maiores jornais americanos quando fez a Guerra do Iraque.
A grande mídia brasileira é tecnicamente ruim e mentalmente
perniciosa? Sim. Mas a americana, se tecnicamente é ok, mentalmente é
tão perniciosa como a brasileira.
É um benefício, uma bênção para a sociedade o fato de que a era
digital tire a importância velozmente do jornalismo feito por grandes
corporações como a News Corp de Murdoch ou a Globo da família Marinho —
interessadas em perpetuar um sistema que as beneficia
extraordinariamente, e a seus iguais em privilégios disfarçados de
meritocracia, em detrimento do interesse público.
Por Paulo Nogueira no DCM
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