A igreja Armada ilustration: militanciaviva |
Como a direita religiosa organizou um bloco que mudou a política norte-americana
Luiz Carlos Azenha, no Viomundo
Morei pela primeira vez nos Estados Unidos durante o único mandato de Jimmy Carter. O presidente originário da Geórgia, no sul, era um batista abertamente religioso. Dizia-se, então, que ser sulista ou ter um sulista na chapa era condição indispensável para disputar a Casa Branca. Uma forma de dar satisfação ao chamado Bible Belt, o Cinturão da Bíblia.
Luiz Carlos Azenha, no Viomundo
Morei pela primeira vez nos Estados Unidos durante o único mandato de Jimmy Carter. O presidente originário da Geórgia, no sul, era um batista abertamente religioso. Dizia-se, então, que ser sulista ou ter um sulista na chapa era condição indispensável para disputar a Casa Branca. Uma forma de dar satisfação ao chamado Bible Belt, o Cinturão da Bíblia.
Carter foi derrotado em 1980 pela crise econômica,
pelo debacle no resgate dos reféns norte-americanos presos na embaixada dos
Estados Unidos em Teerã e por não ser suficientemente anticomunista (por causa
da resposta dele à invasão soviética do Afeganistão). É do período de Carter o
surgimento, nos Estados Unidos, da chamada Moral Majority, a Maioria Moral, uma
organização militante em defesa de causas cristãs.
Ronald Reagan inspirou a "maioria moral" |
O republicano Ronald Reagan chegou ao poder com apoio
da Maioria Moral. O grupo, já extinto, ajudou a consolidar uma coalizão
religiosa ecumênica que assumiu protagonismo de longo prazo na política dos
Estados Unidos. Ela se reuniu em torno de temas como o combate ao aborto e ao
casamento entre pessoas do mesmo sexo e a promoção do ensino religioso e do criacionismo.
O ápice do poder da coalizão foi nos dois governos de George W. Bush: a direita
religiosa forneceu a militância, os neocons reunidos em publicações
conservadoras e think-tanks de Washington ofereceram as ideias e o dinheiro
vinha de grupos lobistas ou milionários como os irmãos Koch.
É importante lembrar que, nos anos 50, evangélicos
trabalharam ativamente contra a eleição do primeiro presidente católico dos
Estados Unidos, John Kennedy. De certa forma, os fiéis mais conservadores se
aglutinariam mais tarde numa resposta à contracultura dos anos 60 e à
“esquerdização” do Partido Democrata, que adotou a plataforma dos direitos
civis.
Foi a luta pelos direitos civis, aliás, que deu ao
Partido Democrata uma aguerrida militância; o Partido Republicano, que se
ressentia da falta de ligação com organizações de base, conseguiu a sua na
direita religiosa. Cabos eleitorais, voluntários para bater de porta e porta e
fazer propaganda, para ligar e convencer amigos, parentes e vizinhos a votar ou
apoiar uma causa.
No Brasil, como notou Vladimir Safatle recentemente, a
Igreja Católica, que esteve na base da formação do PT — com suas Comunidades
Eclesiais –, nos últimos anos deu uma grande guinada conservadora. Em São Paulo já se nota uma
aproximação entre os carismáticos e os evangélicos. José Serra ensaiou a sua
própria ‘coalizão’ religiosa em 2010, com o então bispo de Guarulhos e o pastor
Silas Malafaia. Mas, é importante destacar, embora ambos tenham apoiado o mesmo
candidato não atuaram conjuntamente.
Celso Russomano (à esq.) e o "bispo" Edir Macedo |
Não se trata ainda, portanto, de nossa Maioria Moral.
É que enquanto os católicos representam interesses econômicos consolidados, os
evangélicos ocupam desproporcionalmente a base da pirâmide social — a inclusão
social tem prioridade sobre as questões morais. Por paradoxal que seja, almejam
mudança com “ordem”, o que resume grosseiramente a proposta de Celso Russomano.
Segundo o Estadão, um de cada cinco eleitores tradicionais do PT é evangélico –
justificativa dada pela campanha ao informar que Fernando Haddad vai disputar o
voto evangélico com o candidato do PRB.
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