Houvesse
sido o seu governo o mais limpo e mais honrado de toda a nossa
história republicana, naturalmente, o Sr. Fernando Henrique Cardoso
manteria silêncio sobre os seus sucessores. Não lhe caberia
censurá-los, nem elogiá-los, deixando o juízo à transparência dos fatos.
Quando
alguém despreza a inteligência alheia, e é o que faz o ex-presidente,
infirma a própria inteligência. Em nenhum governo houve tão rápido
enriquecimento de agentes públicos, quanto no seu. Tudo se fez de forma
asséptica, com cuidadoso planejamento legal, para que os brilhantes
rapazes da equipe econômica saíssem por uma porta – a das instituições
públicas – e entrassem pela outra – a do sistema financeiro e das
empresas privatizadas, ganhando milhões neste movimento. É provável
que, em nenhum dos casos, houvesse infração às leis, ajustadas
previamente ao programa, a partir do governo Collor. Pode ter sido
“legal”, mas contrariou todas as regras morais e feriu profundamente o
mandamento ético.
É claro que sempre há descuidos, como houve o
do “adjutório” ao banqueiro Cacciola. Cacciola, que pôde fugir para a
Itália, foi laçado pelas circunstâncias e acabou indo para a prisão. Os
outros implicados, diretores do Banco Central, apesar de condenados,
respondem em liberdade. O dinheiro desapareceu no vórtice da crise.
Nenhum
chefe de Estado, antes dele – e, até agora – nem depois dele, violou a
Constituição a fim de reeleger-se, mediante o suborno de parlamentares
com favorecimentos e, de acordo com as denúncias conhecidas, dinheiro
vivo. A emenda da reeleição já se encontra na História como um dos
momentos mais constrangedores da vida republicana.
Em entrevista a
um portal da internet, há alguns meses, Fernando Henrique se referiu
ao Ministro Gilmar Mendes – que ele nomeou – como “corajoso”. Não lhe
pode ser negada a mesma coragem. A coragem, por exemplo, de se referir
aos fatos lamentáveis da Ação 470, em julgamento pelo STF, como se
referiu, esquecendo-se de que homens de seu partido se encontram sob
suspeita de atos semelhantes. O publicitário Marcos Valério, é o que se
sabe, sempre agiu com neutralidade partidária. Em lugar do ataque a
Lula, seria melhor a Fernando Henrique um ato de contrição.
No
julgamento dos pósteros, Lula, com todos os seus acertos, erros e
defeitos, será lembrado como o sertanejo que entrou para a História,
arrombando-a com o próprio peito, como fazem os pobres. E Fernando
Henrique será lembrado como o “intelectual” arrogante, que chamou o seu
próprio povo de caipira, e os aposentados de vagabundos. Ele, sim, é
até hoje fascinado com os estrangeiros, embasbacado com Paris e Boston,
frustrado por não ter nascido no Marais do século 18, nem na Nova
Inglaterra de
No Viomundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário